Preparando para os dias sombrios na economia

O dia é 17 de maio de 2017. No início da noite, o jornal O Globo posta a notícia de que o então presidente Michel Temer estava envolvido com propinas. Uma gravação mostra que ele pagou para ter o silêncio de Eduardo Cunha. Acredito que não preciso continuar a história, pois todos a conhecem.

Porém o foco deste texto começa no dia seguinte: 18 de maio. Como consequência do dia anterior, logo na abertura da Bolsa de Valores, as ações desvalorizaram tanto que o índice Bovespa caiu mais de 10% e entrou no circuit breaker, onde as ordens de compra e venda são suspensas por um determinado tempo. Para se ter uma noção do quanto isso é incomum, a última vez que este evento ocorreu foi em 2008. O programa do Tesouro Direto, que costuma abrir às 9:30, podendo "esticar" até às 10h, só foi ter sua abertura às 16h, com títulos bem desvalorizados.

No final do dia, tínhamos ações e títulos públicos com preços bem abaixo do praticado em dias anteriores. Além disso, o dólar tinha subido quase 10% no dia. Dias assim costumam ser chamados por alguns economistas de cisnes negros. Possuir ativos de risco e estar imune a esses dias é praticamente impossível. Para tal, ou você tem informações privilegiadas, ou você tem sorte. Para a maioria, o que resta é estar preparado para esses dias e aproveitar quando eles aparecerem.

E aqui entra a seguinte pergunta: como me preparar para tais dias?

Uma estratégia é ter uma reserva financeira acima do limite estabelecido por você. Esse montante extra seria utilizado para comprar ativos em suas desvalorizações causados pelos cisnes negros. Um exemplo numérico para ficar mais claro: você estabelece que vai criar uma reserva de R$ 5.000,00. Ao invés de manter esse valor, você pode manter R$ 8.000,00. Em um momento de desvalorização de algum ativo, você poderia utilizar esses R$ 3.000,00 extras para comprá-lo.

Pode ser que você pense o seguinte: "eu vou deixar um montante extra em um rendimento baixo só para esperar anos por um dia em que nem sei se os ativos vão se desvalorizar de fato?". Você não precisa esperar por dias iguais ao 17/05/2017. Preços de ativos caem a todo momento. Sempre tem alguém possuindo centenas de milhares de ações de outra empresa, querendo se desfazer delas e, com isso, aumentando a oferta da ação, o que faz cair o seu preço. Sempre tem também aquela notícia que "joga" o preço da ação de alguma empresa para baixo, para depois voltar ao normal.

Alguém, ainda assim, pode pensar que não vale a pena deixar de investir uma parte do dinheiro em algo mais rentável para manter como excedente da reserva financeira, com um rendimento pior, só para ter uma chance de conseguir algo melhor. Mas te falo para pensar nisso como "dar um passo para trás para dar dois para frente". O ponto é que, nessas oportunidades, consegue-se ativo com preços bem baixos com grandes chances de alta, e acaba compensando o tempo em que essa renda extra não ficou alocada em algo melhor do que a reserva financeira.

Um exemplo recente são as ações da Cemig, que estão, no momento que escrevo, com o mesmo preço que estavam no final do ano passado. Chegaram a cair mais de 40% após as acusações contra Temer. Porém, tudo isso não passa de especulação negativa. No dia, não existia nada que justificasse uma queda tão brusca no preço. Antes das acusações, o preço das preferenciais da Cemig estavam sendo cotado na casa dos R$ 8,80 por ação. Após a queda, chegaram a ser vendidas por R$ 5,14, porém depois voltaram a subir. Quem tinha alguma renda extra para ser gasta pôde aproveitar essa oportunidade.

Mas quem garante que elas iriam subir de preço? Na verdade, ninguém. Só que são ações com grande chance de recuperação, pois a empresa tem fundamentos invejáveis. Eu citei a Cemig, mas qualquer empresa com bons fundamentos poderiam ter suas ações adquiridas após a queda. Quem acompanhou a bolsa de valores no dia depois das acusações contra Temer viu que quase todas as ações, boas ou más, caíram de preço. Não entrarei em detalhes sobre análise fundamentalista neste momento, pois ela ficará para outro post. É essa análise que, mesmo não garantindo que as ações subirão de preço, ajudará o investidor a decidir quais ações comprar e quais não comprar.

Os títulos públicos também fazem parte dos ativos que sofreram queda nessa última semana. A tendência é que eles voltem a subir de preço, então também são boas as oportunidades de ganho. Como exemplo, o IPCA+ 2035 estava custando R$ 1.060,00 nos últimos dias do ano de 2016. Chegou a custar aproximadamente R$ 1.254,00 antes das acusações contra Temer - uma valorização bruta de mais de 18% em 5 meses. No final da semana da acusação, este título chegou a custar em torno de R$ 1.052,00. Foi uma ótima oportunidade para comprá-lo, pois, alguns dias depois, ele já estava em torno de R$ 1.121,00, uma valorização de 6,5% em menos de 1 semana.

Lembrando sempre que se pode "transformar" os títulos públicos, que são ativos de renda fixa, em renda variável. Você pode ler em http://guiamonetario.blogspot.com/2017/02/especulando-com-titulos-publicos-parte-1.html e em http://guiamonetario.blogspot.com/2017/02/especulando-com-titulos-publicos-parte-2.html para ter uma noção melhor.

Gostaria de deixar uma observação neste ponto. No momento que escrevo, Temer ainda está, digamos, equilibrando-se politicamente. Isso significa um retorno à estabilidade econômica - entenda: bolsa subindo, títulos valorizando-se etc. Mas nada garante que isso continuará desse jeito. A qualquer momento, pode acontecer algum fato e a bolsa e os títulos voltarem a cair.

Nesse momento, eu sei que a pessoa pode pensar: não compro nada agora e espero para ver o que acontece, correndo o risco de os ativos não voltarem a ter um preço bom? Ou será que compro agora correndo o risco de esses ativos voltarem a se desvalorizar com uma eventual queda de Temer? Infelizmente, não é possível adivinhar o futuro. Uma sugestão é fazer o "preço médio", ou seja, comprar um pouco hoje, e, esperar um tempo, para comprar mais depois. É possível que tenham pessoas que quiseram aproveitar os títulos públicos com preços bons e compraram o que deu para comprar, não deixando nada para comprar depois e, com isso, fazer o preço médio. Neste ponto, é bom que fique claro que não é uma estratégia errada, porém é ousada. Prefiro especular pouco e comprar um pouco agora e um pouco depois.

Entende agora o motivo de manter uma renda extra alocada junto da reserva financeira? Eu dei o exemplo da valorização dos 6,5% do IPCA+ 2035 em poucos dias, mas outros títulos também tiveram valorização alta, que foi o caso do IPCA+ com juros semestrais 2050. Um bom site para ver os valores dos títulos públicos é http://tdcharts.info/titulos. É um site que ajuda bastante para consultas rápidas.

Com esse post, quis mostrar uma estratégia que você pode usar nos seus investimentos para aproveitar os dias em que há queda do preço dos ativos. Espero que tenha gostado e qualquer ressalva pode ser postada nos comentários para "conversarmos a respeito". Caso use uma estratégia para aproveitar essas oportunidades, por favor, deixe um comentário falando sobre ela. Com certeza, ela será bem-vinda.

Obrigado pela visita.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os CDB's do Banco do Brasil

O banco Intermedium, seu LCI e CDB.

Um apanhado geral a respeito dos Títulos Públicos