Análise de título público: IPCA+ 2035

Antes de ler o texto, caso tenha ouvido falar superficialmente sobre títulos públicos do programa Tesouro Direto, sugiro ler antes http://guiamonetario.blogspot.com/2016/11/um-apanhado-geral-respeito-dos-titulos.html.

Caso você tenha lido as postagens a respeito da especulação dos títulos públicos - escritas em http://guiamonetario.blogspot.com/2017/02/especulando-com-titulos-publicos-parte-1.html e http://guiamonetario.blogspot.com/2017/02/especulando-com-titulos-publicos-parte-2.html -, deve ter notado que faltou uma parte mais prática. O que quero dizer é que os textos ficaram bem teóricos. O intuito era esse mesmo. Neste texto que escrevo, quero tomar um título como exemplo, e pegar três momentos dele para deixar aqueles textos mais claros. Este título é o IPCA+ 2035.

Caso tenha ouvido falar superficialmente sobre flutuações nos preços dos títulos públicos, sugiro a leitura de http://guiamonetario.blogspot.com/2016/12/flutuacoes-nos-precos-dos-titulos-do.html seguida dos links do parágrafo anterior.

Este título começou a ser negociado em março de 2010 com uma taxa relativamente atrativa de 6,25%. Lembre-se que seu rendimento bruto anual será este, além do reajuste no preço do título pelo IPCA. O que se deve ter em mente é que esta taxa dá ao seu detentor um rendimento bruto real, isto é, acima da inflação.

Naquele momento, o Brasil estava em uma expectativa muito boa na sua economia. A cada ano, o Brasil aumentava sua reserva internacional, aproveitando um dólar relativamente barato em comparação com o Real.

Além disso, o Brasil tinha se saído muito bem da crise imobiliária dos EUA em 2008, o que mostrava que era um país forte economicamente. Além disso, no final de 2011, o Brasil ultrapassaria o Reino Unido na economia e passaria a ser a 6ª maior do mundo - feito histórico para um país que, há 20 anos antes, sofria com inflações exageradas.

Um dos pontos a se notar era que os fundamentos da macroeconomia brasileira eram muito bem vistos lá fora. Isso melhorava a expectativa da economia brasileira.

Como dito na parte 2 dos textos sobre especulação com títulos públicos, essa melhoria na expectativa faz com que o governo abaixe as taxas de juros, já que não era tão necessário mantê-las altas. Taxas altas são dívidas altas com os investidores no futuro, e, com a economia em alta, não é tão necessário manter as taxas altas para atrair investidores. Com isso, os títulos IPCA+ 2035 sofreram um aumento, passando de um valor de compra de R$ 413,99 na sua abertura em março de 2010 para um valor de compra de R$ 598,14 no último dia útil de 2011. Isso significa um aumento bruto de um pouco mais de 44% em 2 anos. Isso significa um pouco mais de 20% anuais. Nada mal, certo?

Outro momento pelo qual o Brasil passou foi após as eleições de 2014, em meados de 2015. Pense nestes fatores: possibilidade de impeachment de uma presidente, escândalos de corrupção em uma das maiores empresas do mundo até então, desconfiança de investidores fazendo com que haja uma retirada de dinheiro do país, início de aumento da inflação entre outros. Junte tudo e temos um cenário propício para uma crise política e econômica.

No meio de maio de 2015, o título IPCA+ 2035 estava cotado a R$ 846,01 (15/05) e chegou a custar R$ 718,79 em março de 2016 (03/03), uma queda de um pouco mais de 15% em menos de 12 meses.

O ano de 2015 fecha com problemas políticos - entenda possibilidade de impeachment - e inflação alta. Logo no primeiro semestre de 2016, Dilma é afastada por 180 dias e, com a Selic alta, a inflação começa a ser controlada. Esses dois fatos maiores, unidos de outros, alteram o curso do preço do IPCA+ 2035, além dos outros IPCA+ e Pré-fixados também.

No início de março de 2016, tínhamos o IPCA+ 2035 com o preço de R$ 718,79. No meio de janeiro de 2017, seu preço estava em pouco mais de R$ 1.100,00, o que significa um aumento de um pouco mais de 53% em praticamente 10 meses.

Esses três momentos mostram como os títulos podem variar significativamente em relativamente pouco tempo. E mostram também como podemos evitar de comprá-los ou aproveitar o momento para comprar.

Vale dizer que nem todas as variações são explicadas por momentos positivos e negativos da economia e política brasileira. Há fatos isolados que podem influenciar os preços dos títulos Pré-fixados e IPCA+.

Por exemplo:
  • Bolsas de valores fecharem com forte queda. Um exemplo foi o fechamento das bolsas de valores asiáticas no dia 24 de agosto de 2015. Após fortes quedas, o título IPCA+ 2035 foi de R$ 728,73 um dia útil antes para R$ 696,15 no dia 24/08/2015.
  • Eleições de presidentes em outros países. Um exemplo foi a eleição de Trump. Já no dia da vitória, o título IPCA+ 2035 abriu com queda e seguiu nesse ritmo alguns dias até tudo se estabilizar e voltar a se valorizar.
Alguns pontos importantes devem ser notados e reforçados:
  • O Título Tesouro Selic não tem essa característica de sofrer variações positivas e negativas. Ele sempre varia positivamente seguindo a taxa Selic over. O que pode acontecer é a Selic diminuir de rendimento, mas isso não significa que o valor do título vai diminuir.
  • Não estou sugerindo para ninguém especular. Só quero mostrar uma características dos títulos Pré-fixados e IPCA+. Se for comprar títulos para especulação, faça-o por sua vontade. O risco será seu.
  • Apesar de esta postagem ser uma análise do IPCA+ 2035, todos títulos Pré-fixados e IPCA+ tiveram variações parecidas.
  • Se você desfaz do título para conseguir um rendimento de 53% em 10 meses, você pode não conseguir uma nova taxa de juros que você conseguiu quando comprou este título. Veja só: em março de 2016, tínhamos uma taxa de 7,44% além do IPCA para o título que estamos analisando. Hoje, no início de 2017, temos uma taxa na casa dos 5,10%. Se você vender hoje o seu título com a taxa de 7,44%, pode ser que você não conseguirá mais essa taxa. Mas pode ser que você consiga. Tudo vai depender da sua estratégia de investimento.

Qualquer dúvida, comentário, sugestão, crítica etc, é só escrever nos comentários.

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